quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Leônidas e a garota

Leônidas evitava o café brasileiro que não era aquele que era primeiro exportado e depois voltava com um algo a mais. Dentro de sua perspectiva de vida existia sempre um motivo para isso, e não era o de ter dinheiro o suficiente pra pagar por tal café o determinante. Apreciava o bom paladar. Se ganhasse por mês metade do que ganhava beberia da mesma fonte.

O dinheiro de Leônidas não era muito. Ele era pobre sobre vários aspectos. Sua vida fazia sentido, o desafio de conquistar as coisas com economia ele ainda o tinha, fazendo valer aquisições só as que fossem realmente necessárias. Seu dinheiro não era lá aquele dinheiro contado, mas também não era digno de cifrões da altura de loterias. Gostava de se reconhecer como pobre, mesmo não sendo tanto assim. Um rico que sabe viver a vida, alguns arriscariam.

“Baby, you’re a rich man, baby you’re a rich man too...” Já dizia a velha canção dos besouros.

Um pouco de selvageria perpassava a vida de Leônidas, vez por outra. Em um belo entardecer de um dia se tornando noite, resolveu contratar uma garota de programa, pra fazer algum, algum programa, qualquer que fosse. Ele mal sabia que sua logo serviçal andava armada com facas.

Esfaqueou o abdômen de Leônidas num momento em que ele relaxou, confiando em sua companhia, mas esfaqueou com muita força mesmo, força que um homem não teria. Foi a inspiração do momento, Leônidas distraído, tentando sentir o prazer que nem mesmo almejava de início... Queria uma garota de programa, uma companhia, pra passar uma noite pela cidade. Mas a garota o arrastou ao sexo, e como!

Não ficaram dez minutos juntos e já estavam na cama.

A faca gotejou sangue, e Leônidas, em transe, não se sabe se pela transa que jovem, menina, já florescia ou se somente pelo susto mesmo. Fez cara de espanto, como que tendo um espasmo, até mesmo um orgasmo: a faca entrou... _ Uh... – Ele exclamou, e sua exclamação mais parecera uma autorização para que seu sangue gotejasse junto à faca do que qualquer outra coisa.

Daí a nossa garota, enfiou mais fundo a faca, mais fundo, como uma boa encravada de cacete na buceta, ou mesmo anal, segurou, segurou, e a arrancou, límpida em sangue como mesmo um cacete o gostaria.

Decidiu não esfaquear mais. Sua vítima simplesmente desinflou em sua frente, inflado que estava com o ar da morte, apenas expirou, e quando a vez era a de inspirar, tentou, mas não o fez, não conseguiu, não expirou duas vezes.

Abandonou Leônidas no pequeno quarto de motel, por entre os resquícios de porra de outros casais que por ali passaram. Sempre detestou motel, um extremo mal gosto tomar banho em banheiras que já foram esporradas mil, sabe-se lá por quem.

_ Hoje eu uso faca! – foi o seu apontamento quando ficou sabendo que o destino para sexo de Leônidas era um motel. Agora, tudo estava consumado.

Escrito ao som de Tool – The Grudge, Eon Blue Apocalipse, The Patient...

5 comentários:

Unknown disse...

A história é, de certa forma, simples.. Mas isto não incomoda; Já que a forma em que se estruturou, alguns respingos da humanidade dele e das vontades dela, deram o tom exato para uma boa leitura!

;D

Camila Gusmão disse...

Eu adoro textos inteligentes.... tão raro.
Parabéns pelo blog.

Samir. disse...

Vale a pena ser lido! Parabéns! Gostei do Blog! Se puder visitar o meu, será bem-vindo. Abço!
http://sem--hipocrisia.blogspot.com/

Angélica Nunes disse...

poxa..não posso dizer que arrepiei, pois estaria mentindo. Mas realmente de algum jeito foi perturbador. Um cara sem animo nem pra lutar pela própria vida. horrivel...
Mas o texto foi bom!

Anderson Meireles disse...

Tocante, vibrante... Como deve ser a arte. Parabéns!
Abraço!