sexta-feira, 27 de setembro de 2013

água bate

estudo
trabalho
casa
baralho
sono
cansado
seus olhos
me convidam
a algo novo
sempre mais
livramento
paz, tormento
hoje, silêncio
ativo o milênio
junto de você
estrelas juntas são imensas
e tenras
terra
te encontro
te agarro
sedenta
você está
sempre
mas
agora a água bate na minha cabeça e me faz esquecer de tudo e
já num outro momento
lembrar só de você
um beijo, um novo nascer
haverá de acontecer
abraço, mágoa, água...
gelo, momento, sustento
o universo torna possível
o que nunca mais aconteceria
só minha
terraço de argila
momento de lambê-la
aquário de peras
singelo despertar
singelo morrer
eu nunca mais quis saber de nada senão estar
fiel
à mel
à mil
conhecendo todo o Brasil
compartilho com você meu momento, minha viagem, meu sustento...
aquário de concreto
brisa de cimento
beijo de pétala
abraço, mágoa, água...
tudo passou
me lembro novamente de você
queria esquecer
acabou
durma tranquila por mim
estarei longe
mas você sabe onde
perto do seu coração
quase invadindo
sangue pressuroso
destaque de uma aventura sem precedentes
só quero minha água, minha vida, meu momento...
estudo
trabalho
água
sonho ao seu lado
e você está no meu sonho
te mato
te socorro
rolo com você até depois querer fazer tudo de novo
morto
osso
curvo
moço
morro
já não sou mais ninguém de novo

_
escrito ao som do álbum Stadium Arcadium, Jupiter do Red Hot Chili Peppers

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

um som ao vivo

guitarra
pesada

técnica
apurada

sorte
gratidão
um espetáculo na multidão

graça alcançada
um prazer participar
de um som ao vivo
de um mar, de luar...

terça-feira, 17 de setembro de 2013

recolhida

pulou da janela e bateu de cabeça no chão
mas não morreu

outro enfiou a cabeça na turbina de um avião
morreu

acho uma pérola no fundo do mar pra você
sou
instintos nocivos a mim mesmo
estou

rosa amarela
bairro gigante
recolhida em seu leito
tento ao menos imaginar você

_
escrito ao som do álbum auto-intitulado do Dream Theater

sábado, 14 de setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

voo de urubu, veneno de rato...

cansado estava o voo do urubu
comer carniça sozinho agora eu vou porque eu prefiro
mergulhar a ferida no álcool só por um momento de reflexão
me despedaçar no ato do simples estar parado
de galho em galho, de mato em mato...

dádiva sim, o louco debulhar-se do dia
perigo não, a noite é selvageria...
distante de mosquitos da repetição
um estar realmente amplo
preenchendo esse estar, um recanto

um extravasar as paredes
mergulhar nas estrelas
saciar as apalpadelas
registrar as minhas nuances em morte e aquarela
rastejar no teto, beber concreto
sonoridade

deixo a cidade
visito as montanhas
ao encontrar uma cena em que as falas rimem
hímen
samambaias sorriem
diversão e mais um bocado
vai restar só retrato
veneno de rato
supra correlato

_
escrito ao som do álbum Blood Sugar Sex Magik do Red Hot Chili Peppers

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

querer

ninguém quer saber se você é insubstituível
quando é óbvio que você é substituível

ninguém quer saber sobre o seu choro na noite
quando suas lágrimas são lucro garantido

ninguém quer saber se você tinha algo a dizer
pois você não soube o dizer

ninguém quer saber se você tem algo a compartilhar
quando ninguém quer compartilhar algo com você

o tiro de escopeta bateu no poste e retiniu
mas o seu pescoço ainda não se abriu
você precisa virar vampiro
sugar sangue e levar até tiro
desde que não seja de prata
você vai ser parte da nata
morder com amor será seu passatempo
regozijo e discernimento
e depois de tudo...

ninguém vai querer saber de você
isso é tudo que você precisa saber

um sonho e morte de uma bola

um sonho da bola
que bate na trave
sim, a bola sonha
em morrer fundo na rede

o jogador a chuta com força, jeito e garra
mas nem sempre seu sonho acontece e gera algazarra
da galera prolífica de berros pelas arquibancadas

um dia um colega chutou tão forte
que a bola espocou mesmo em seu ritmo de esporte
sobrou só o gramado em silêncio graúdo
depois que o jogo acabou sem futuro

dia de sol

escondido atrás do rochedo
estava parado Matias com sua alma no coração
a beleza não abandonava Matias
mesmo quando ele se escondia

dia de sol seguido por um momento de chuva
Matias se saciava com os dentes na uva

levitava absorto com os olhos salgados
dormia tranquilo sofrendo pesadelos
queria um dia ser mais forte e feliz
mordeu em ausência o pescoço de sua predileta atriz
hoje corre pelo campo de futebol e faz dois gols por mês
e um dia ativou o botão que matou todos vocês

_
escrito ao som do álbum The Hunter do Mastodon

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

calma

_ arranque o nariz da cara
jogue licor de groselha nos olhos da anta
vai ser feliz esse aí...

julgue eternamente
e convenientemente
e terás boa fama
diante do mar de antas

fogo cruzado no céu
levou a alma do mal embora
mas ainda temos um país
que agoniza e chora

_
escrito ao som do álbum The Hunter do Mastodon