segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

empunhadas

nessa foice eu vi um estalo
ela bateu e pocou a carne
grande ensejo do povaréu
todos gritaram em escândalo

e então uma serra elétrica foi empunhada
cortou os pulsos dos sem coragem de o fazer
alimentou os porcos com lavagem de cérebro humano
e não pagou pra ver

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

pitaya da labuta

uma fruta nova pro amor, por favor
pitaya, parente do kiwi, sim, existe
bom pro saco, pros neurônios e contra apnéia
nesse mundo o vento passa que passa o mundo que passa passa

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

irmãos no emoldurado

em sampa
aéreo
vilarejo
cemitério

cura
brothers
mais que isso
mais que nada

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Falando de amor

"Vem depressa, vem sem medo
Foi pra ti meu coração
que eu guardei esse segredo
escondido num choro canção"

[Falando de amor]

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

óleos

Olhos azuis clamavam por justiça. Olhos leves azuis.

Olhos que passam uma lubricidade espiritual muito grande diante da realidade que só quem os têm pode saber.

Olhos verdes. Olhos verdes quase água. Segurança e lealdade, espontaneidade e liberdade. Olhos leves verdes também clamavam por justiça.

Olhos cor de mel. Nada de ansiedade, só curtição, pra quem os têm.

Olhos pretos. Agilidade e rapidez de absorção.

Olhos violetas. Só eu e ela temos.

Carpete voador: pegou todos nós e voou até a Espanha. Juntos somos seis, erigimos então seis pilares com pedras preciosas colocadas lá no alto de cada um deles, cada um com uma pedra: rubi, safira, esmeralda, ônix, petróleo e dinamite.

Rezamos então para o melhor desenvolvimento espiritual do ser humano. Que os seis pilares servissem de apoio e fonte inspiradora para aceitá-lo, para com ele evoluir e contribuir para o bem estar social, micro e quem sabe macro. Foi tido o indivíduo como incógnita base padrão, que pode aceitar e evoluir com completa independência, como ponto de início fundamental, à vida, à morte, à ressurreição e dignidade.

escrito ao som de psytrance (vários)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

retoques de colheitas

_ Nossos números estão valendo 10%!

_ Minha chance de morrer acabou aos dezenove!

_ Eu não sei qual a graça de viver sem matar!

_ Ele tinha dezenove também (centímetros de cacete)!

_ A bolsa de valores vai pocar. O diabo vai nascer!

_ Meu diabo é mais gostoso que o seu!

_ O resultado de hoje da mega sena é de mais de cento e noventa milhões!

_ Há uma água doce da qual jamais deixarei de beber!

_ Meu videogame evolui!

_ Estou feliz!

_ Abraço pra toda a juventude do colapso estrutural da sociedade! Fazíamos mais do
que hoje, mas não há problemas! Viveremos do que comermos!

_ Aquela janela disputou espaço com o ventilador de teto!

_ Toda a graça e toda cura! Amém!!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

entre as catacumbas de Maria Aritmética e Franco Dicionários havia uma barreira

Entre as catacumbas de Maria Aritmética e Franco Dicionários havia uma barreira, uma catacumba de alguém que não foi muito importante em vida, que, quem sabe, até merecia uma catacumba melhor.

Maria não sabia como chegar até Franco, eles foram separados pela morte dias após seu casório. Ambos não acreditavam que o espírito é mais importante que a carne. Aconteceu então que ficaram embotados na carne mesmo depois da morte.

Aritmética estava com os olhos abertos em sua catacumba, e pelo tempo que já estava lá, já começava a recobrar movimentos. Dicionários já estava até ficando com o pau duro depois de dois meses. Sonhava, já com os olhos abertos, com o sexo oral que de sua adjunta esposa poderia obter.

Mas, havia ainda por cima, além de estarem mortos e enterrados, uma outra barreira, já mencionada no primeiro parágrafo: uma catacumba de um estranho entre eles, e era uma catacumba pobre, uma regalia para mortos como eles que adorariam dar uma voltinha por aí de vez em quando. Se a catacumba é mais pobre ela é mais fácil de ser vencida para se sair dela.

Maria Aritmética, casada com Franco Dicionários detestavam aquela barreira. Que barreira seria essa? O que será que ali entre eles estava enterrado?

Uma pessoa. Zé do Açougue. Zé trabalhara a vida toda no açougue vendendo carnes, e não dispensava um ou outro trabalhinho por fora: esquartejar um humano ou outro pra facilitar o sumiço do defunto, essas coisas.

Depois de dois mil e setecentos anos, Maria Aritmética já estava sentadinha em cima de sua catacumba, e, Franco, sentado na sua, com o pau na mão. Só precisavam vencer aquela barreira pra se encontrarem juntos. Acontece que rolou um raio vindo do céu que caiu exatamente sobre Zé do Açougue. Ele ressurgiu das trevas, com seu machado na mão, machado que seus comparsas haviam colocado junto de seu corpo em homenagem e consideração por sua companhia.

Não deu outra: Zé do Açougue partiu pra cima dos corpos de Aritmética e Dicionários, os casados, mal casados, comparsas da carne e não do espírito, e esquartejou-os completamente. Primeiro a Aritmética: rolou pescoço, rolou braço, cuspiu barriga... Dicionários: voou pau, esbugalhou olhos, desencantou pernas.

Foi dada a chance da conquista, em último grau, aos amantes. Agora os dois estavam esbugalhados, esquartejados na terra no cemitério, completamente misturados: deviam se sentir mais unidos do que nunca, de uma maneira que nunca imaginaram antes. O problema é que os nervos já estavam todos desarticulados pelo excelente trabalho do Açougue. Agora eles se tornaram apenas merda desarticulada em espasmos sem poesia, o que de certa forma sempre foram, apenas chegaram a um ápice: o ícone de quem pensa como eles, o destino que têm: antes ou depois, agora ou para sempre.


escrito ao som do Slayer

justiça de sol violeta

Enquanto a passeata prosseguia com seus cartazes o sol se punha braseadamente por entre as nuvens de algodão doce...

Elas reclamavam um novo dia melhor. O sol deveria nascer violeta e as nuvens de algodão doce deveriam se tornar acessíveis, ao alcance das mãos...

Depois de uma semana mais ou menos eis que surgiu no límpido céu o sol violeta. Transmitia uma paz a tudo e a todos que jamais alguém poderia ter mensurado. Depois de dois dias foi a vez das nuvens chegarem ao alcance das mãos, provando que eram de algodão doce.

Até o dia em que a Prefeitura Municipal se revoltou contra tamanha paz e resolveu dar um toque de recolher... Em alguns dias o sol se foi, eternamente escondido por trás de longínquas nuvens que já não mais serviam doce à população. Eram de algodão doce, ou seja, algodão de ácido lisérgico, mas agora estava tudo acabado.

Passado algum tempo, com tudo daquilo tendo acabado, o prefeito retirou o toque de recolher. Aí tudo voltou, o sol violeta, o doce ao alcance de todos, mas dessa vez seria diferente... O próprio sol fez justiça. Abocanhou o prefeito em plena praça pública depois voltou ao céu, seu lugar de equilíbrio predileto.

Muitos morreram por causa de overdose de doce, mas muitos ainda estavam vivos, vivendo uma vida sem tédio e sem prefeito.



escrito ao som de Fantômas – Suspended Animation (in shuffle)