quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

cortados fora

cortados fora os maus alarmes
cortados fora os que buscaram para si a maldição
cortados fora os de intenção duvidosa
cortados fora, ao fogo, à fornalha

os campos abertos são livres
para a vida, para o eterno jogo de amor que é a existência
música que é música é música honesta
com o fruto da liberação e da liberdade em punho
os autores se divertem e se expandem espiritualmente

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

apodrecerá o ouro?

dentro da gaiola que suas tripas são
há um cheiro de vitória
para ser menosprezado
por só existir na dúvida
osso de ouro apodrecendo
quando você não quiser mais
se debater em devaneios
torturas ou confusões

enxotado, respire

enxotado em um ralo de merda
preso numa cadeia cerebral
perdido entre os pormenores
usado por maus espíritos
jogado às traças e vermes
apodrecendo em uma rede de dúvidas
definhando como o mal devora
esquecido por entre os cochilos
abandonado à escravidão chamada tédio
não há lugar para controle
respire

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

paisagem de morte protegida pela natureza

Quem olharia para aquele lado do asfalto agora? Duzentos e trinta e três corpos amontoados se apresentavam aos olhos dos transeuntes. Inertes, sem memória, mortos no passado que há pouco passara, entre calda de cereja oferecida no sorvete a todos eles, matando-os de intoxicação, como uma vitamina que o corpo poderia pedir sem saber se era necessária ou não.

Tecendo áreas de veneno os escorpiões logo apareceram para ferroar as pessoas que chegavam perto curiosas. Aquele cenário de horror não seria explicado facilmente, não se dependesse dos escorpiões. Quem chegava perto do cenário era fatalmente atraído pela beleza e ferrões dos escorpiões que os ferroavam a todos.

Não demorou e chegaram também as aranhas, gigantes, carnudas como buceta, extravasando o veneno nos transeuntes. Aquele cenário não seria mudado, se dependesse delas, ele apenas apodreceria um pouco mais, naturalmente.

Os únicos Vips eram os urubus. Foram aceitos pra provocar uma mudançazinha no ambiente, arrancar olhos, triturar nervos, ou seja, pincelar a pintura, a paisagem que tanto apreciavam.


escrito ao som de GZR – Seance Fiction

Senhora Dôuta e o frio

Algumas vezes Senhora Dôuta não sabia o que fazer. O frio estava aí, “aquecendo” e esquecendo as almas, diante do fogo e da verdade, com as asas da justiça abanando os corpos desavisados. O frio que é quente à alma dos que tem condições de o curtir, mas que, por outro lado, arrasa os descamisados.

Na beira da fogueira seu cachorro Alasãones berrava querendo água, ela estava toda petrificada pelo frio abaixo de zero. Senhora Dôuta esbugalhava as pedras e do resvalo que delas saíam eles bebiam.

_ Quero virar gelo também! – confessou em desejo Senhora Dôuta. Pegou o saca-rolhas e enfiou no olho esquerdo, desbugalhando-o para fora da face. Queria morrer. Perdera o medo da dor. Alasãones olhando aquilo ruivou assustado. Enquanto gritava, Senhora Dôuta enfiou o saca-rolhas no olho restante e também o esbugalhou para fora da face.

Tinha tudo para curtir o frio, mas preferiu a morte, quem sabe se porque no íntimo o gostava tanto que quis se juntar a ele. Mas, a forma que usava talvez não fosse a melhor. Logo pegou uma tesoura e deu uma tesourada na face, pegando lábios e nariz. Quem tiraria a vida de Senhora Dôuta para dar fim aquele espetáculo de horror?

Ela então abriu as portas e saiu correndo por entre a neve e o clima congelante do interior do Canadá. Foi atropelada por um carro que se desgovernou ao vê-la correndo pelas estradas e morreu. Em paz?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

princesa de caralhais

Há dois caralhais de distância do castelo Amara Lyna bocechava já distante do despertar. Acordara em meio às palhas do palheiro, deitara com dois moços de cacete que vai até o estômago quando chupados. A menina pensava agora o que faria durante a trajetória de volta ao castelo, há dois caralhais de distância. Pouparia os caralhos de tais caralhais ou ia chupando e se enrabando até chegar?

Alguns, aliás, a maioria, a chamava de princesa. Gostava muito de se vestir de vermelho escuro, a cor da imundície que saía de seu corpo a cada quase um mês, sangue e porra da população quase inteira de seu reino.

Seu pai não curtia essa onda e um dia mandou que a matassem. Ela foi morta por um veado do tipo bicha chique que tanto se vê por aí.

O reino nunca mais foi o mesmo. Aquele sentimento que a princesa tinha de a qualquer recanto relaxar e fuder não poderia ter sido perdido, era uma muito triste perda. Porém, aconteceu. Em meio à perda os transeuntes se perguntavam o que seria do reino sem a sua princesa puta toda de vermelha.

Choveu sangue do céu, em um belo dia. Depois desse sinal, que significou a eles algo como que uma necessidade de violência para que ocorresse justiça eles resolveram matar o veado que matou a princesa.

Esfaquearam o cu do veado até ele não mais parar de sangrar e morrer. Vitória conquistada. Talvez os céus não envergariam em sangue novamente, mas a tristeza ainda pairava no ar. O que faria o rei agora?


escrito ao som de Dysthymia – xxxxxx e The Great Fall

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

têm

e as estrelas
não me salvarão?
me sinto cansado
quero mais que um cacho de uvas
quero ser livre
em melhores termos
quem me salvará?
eu
minha identidade
precisa ser firme
salva-me!
em óleo e sabão
eu descanso a minha alma
já estou atingindo
a verdade
a veracidade
mais que o ouro
mais que o que nem sei o que
estou me tornando quem eu realmente sou
amo-as todas
no que depender de mim tudo terão
cacete, abraço, companhia
minhas linhas são livres
há mais que o fogo, que purifica
amo a água e seu sentimento
é tudo o que está por trás dos meus objetivos
caridade e beleza

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

discussão entre duas senhoras de idade nem sempre maneirando em suas visões de vida

_ Falcatrua! Eu nunca menti na mesma quermesse que a sua! Vai pra lá comer seu pão que aqui eu vendo a minha farinha! Quantas vezes terei que dizer que o meu proceder também é válido? Hoje, quanto caixeiro aí de viagem, e você vem logo aqui pra torrar minha paciência?

_ O amendoim também tava barato, não sei se a marca era boa, mas estava sim, até saboroso. Um pouco entalante na garganta, mas tudo bem... Se é de pão que você quer ir já adianto que o que eu como e o que eu vendo é pão sem fermento. Haverá um dia em que você também irá saboreá-lo.

_ Quanta nuvem boa pesada no céu e você vem aqui me importunar! Acho que vou beber de outras águas hoje, vou subir as montanhas.

_ Faz bem... Eu também amo as montanhas... Um pedaço de charque pra mim até a primavera já está bom de lucro à toa. Estamos no inverno e a terra é sempre boa. Planto daqui e você planta de lá. Adeus, até a próxima estação.

_ Vá!

leite rosa

Leite quente. Com aditivo de morango: aquele que todos experimentaram na infância. Que sumia e de repente aparecia, como uma alternativa ao achocolatado.

Leite quente, cheio de vitaminas, se fosse aquele com a farinha da via láctea.

Leite à temperatura ambiente, sempre à disposição.

Leite gelado, também muito apreciado.

Quanto tempo que não bebiam com aquele em pó de morango. Lembravam que era meio enjoativo, mas às vezes era muito bem-vindo.

Compraram uma latinha depois de décadas, ainda não experimentaram, mas se sentem como bons consumidores, daqueles que com três reais podem trazer à tona tal experiência de aroma e sabor e, finalmente, ao menos tentar dar um atestado se é enjoativo ou não.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

sepulcral

Entre todas as casas havia agora um silêncio sepulcral. Depois que as crianças se foram tudo ficou muito parado, sem alegria, festejo, uso, de drogas.

Os que restariam também se foram, para outras cidades, para bairros de outras cidades, morros de outros estados. Se um estado era abastado de estoque para consumo, agora seria outro, um estado vizinho. É. O restante das crianças voou para ele.

Tudo azul no estado vizinho agora. Uma nova forma de se organizar foi surgindo, mais madura, mais organizada... O crime, mais organizado.

Pessoas que sonham, pessoas que vivem, do Rio pra Vitória. Não me pergunte se lá irá faltar... Aqui, me parece que não.



escrito ao som de In Your Room, Depeche Mode

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mais uma dose

Uma dose de paz pra mim por favor
tenquiu.